segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

E o Oscar foi para...

A 88ª edição do Oscar, a grande festa do cinema mundial, aconteceu na noite deste domingo, 28 de fevereiro, diretamente do Dolby Theater, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A cerimônia foi apresentada pelo ator negro Chris Rock, justamente em um ano marcado pela ausência de indicados negros nas categorias principais.

A festa começou com um clipe com cenas dos principais lançamentos do ano passado. Em seu discurso de abertura, Chris alfinetou os negros que boicotaram a cerimônia, para, no final, pedir mais igualdade de oportunidades entre brancos e negros na indústria do cinema.

A ordem da premiação mudou este ano. A academia resolveu fazer como num filme de verdade, e começou com os prêmios de roteiro. Na categoria original, deu "Spotlight - Segredos Revelados". E na de adaptado, "A Grande Aposta".

Outra novidade é que os vencedores tiveram apenas 45 segundos em seus discursos de agradecimento, e todos enviaram previamente os nomes daquelas pessoas a quem gostariam de dedicar o prêmio, que passavam na parte inferior da tela (cá entre nós, tão rápido que mal dava pra ler).

Na sequência tivemos o prêmio de melhor atriz coadjuvante. Alicia Vikander ganhou por "A Garota Dinamarquesa".

"Mad Max: Estrada da Fúria" dominou o bloco seguinte e levou pra casa os Oscars de Melhor Figurino, Design de Produção e Cabelo e Maquiagem.

"O Regresso", como era esperado, foi eleito o filme com a melhor fotografia. A melhor montagem foi para "Mad Max: Estrada da Fúria". O longa de George Miller também ganhou o prêmio de melhor edição e melhor mixagem de som, totalizando seis Oscars até agora, sem chance de ser ultrapassado por qualquer outro filme.

"Ex Machina" foi reconhecido como o filme com melhores efeitos visuais.

Em seguida tivemos o Oscar de Melhor Curta de Animação, que foi para "Bear Story", do Chile. A categoria foi apresentada pelos Minions. Buzz e Woody, de Toy Story, anunciaram o vencedor na categoria mais aguardada por nós, brasileiros, a de longa de animação. Como era esperado, "Divertida Mente" foi o vencedor, desbancando "O Menino e o Mundo", de Alê Abreu.

Sylvester Stallone deve ter ficado muito chateado por não ter ganhado o troféu de coadjuvante pelo seu Rocky Balboa, do filme "Creed: Nascido Para Lutar", como era esperado. O vitorioso foi Mark Rylance, de "Ponte dos Espiões".

Na seção dedicada aos documentários, os vencedores foram "A Girl in the River: The Price of forgiveness" (curta) e "Amy" (longa).

O escolhido como melhor curta de live action foi "Stutterer" e o filme em língua estrangeira foi "O Filho de Saul", da Hungria.

O momento emocionante da noite ficou por conta da apresentação de Lady Gaga da canção "Til it happens to you", do documentário "The Hunting Ground", que fala sobre abuso sexual. Ao final da música, dezenas de pessoas entraram no palco com mensagens de otimismo em seus braços, o que levou muitos da plateia às lágrimas. Apesar disso, o prêmio ficou com "Writing's on the Wall", do Sam Smith, pelo filme "007 Contra Spectre", que se apresentou no início da noite. O outro show musical foi da banda The Weeknd, que interpretou "Earned it", do filme "Cinquenta tons de cinza" - o grande vencedor do Framboesa de Ouro, entregue no sábado. Os outros dois indicados não se apresentaram durante a cerimônia.

Enio Morriconne venceu na categoria de Trilha Sonora Original, por "Os Oito Odiados" e foi ovacionado de pé por todos.

Depois de três horas de Oscar, os principais prêmios da noite começaram a ser entregues. Alejandro G. Iñárritu, de "O Regresso", foi eleito o melhor diretor, pelo segundo ano consecutivo.

Brie Larson, que ganhou praticamente todos os prêmios a que foi indicada, foi eleita a melhor atriz, por "O Quarto de Jack". E, finalmente, Leonardo DiCaprio desencantou e ganhou o seu Oscar de melhor ator por "O Regresso". Em seu discurso o ator reforçou a importância da relação do homem com a natureza e a defesa do meio-ambiente.

E finalmente, o último prêmio da noite, o de melhor filme. Deu "Spotlight - Segredos Revelados", o polêmico longa-metragem que aborda o abuso sexual de crianças por padres da igreja católica.

Resumindo: "Mad Max: Estrada da Fúria" foi o grande vencedor da noite (6), seguido por "O Regresso" (3) e "Spotlight - Segredos Revelados" (2). "Ponte dos Espiões", "A Grande Aposta" e "Ex Machina" receberam 1 cada.

E que venha o próximo ano!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Geraldinos: o fim de uma era

Durante mais de 6 décadas, milhares de torcedores se aglomeravam numa área à beira do fosso do Maracanã para acompanhar os times do coração. Era a chamada "geral", um espaço democrático, com ingresso barato, que atraía todo tipo de gente: da figura folclórica e apaixonada que se fantasiava para ver o jogo, até aqueles mais discretos, porém supersticiosos, que andavam de um lado para o outro, sem parar, evitando até mesmo olhar para o que acontecia dentro das quatro linhas. E não para por aí não: havia também aqueles que xingavam jogadores e atiravam objetos no treinador, e tentavam evitar, a todo custo, o gol adversário.

É esse o universo retratado por Pedro Asbeg e Renato Martins em "Geraldinos", documentário lançado ano passado, e que ganhou o troféu Barroco de melhor filme eleito pelo júri popular na 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que aconteceu de 22 a 30 janeiro. Acompanhe o bate-papo que eu fiz com eles:

Pedro Vieira: Como surgiu a ideia de fazer o filme?

Pedro Asbeg: A gente ficou sabendo que a geral ia acabar e resolvemos então ver um jogo nesse setor, mas sem a intenção prévia de fazer um filme. Só que saímos de lá com a certeza de que precisávamos registrar aquele ambiente especial e que era um absurdo que ele acabasse. No jogo seguinte já estávamos lá com uma câmera, observando quem estava mais exaltado, quem fazia as caretas mais legais e fomos descobrindo esses personagens. Filmamos dez jogos e aos poucos fomos encontrando os Geraldinos que tinham as histórias mais legais para contar.

Pedro Vieira: A geral foi extinta no Maracanã com as reformas para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Como foi reencontrar os Geraldinos que gravaram depoimentos para o filme anos depois?

Renato Martins: O tempo foi um dos fatores que ajudaram o nosso filme a acontecer. Começamos as filmagens em 2005 e retomamos em 2013, após o fim da geral. E descobrimos que poucos deles ainda frequentavam o Maracanã, que se transformou numa arena com ingressos caros. A geral acabou se transformando nos botecos ou até mesmo no quintal da casa desses torcedores. Alguns continuam indo porque têm gratuidade ou um amigo descola o ingresso, mas a maioria deixou de ir ao estádio.

Pedro Vieira: O que aconteceu no Maracanã acabou se repetindo em vários estádios Brasil afora, com as reformas para a Copa do Mundo. Como vocês analisam esse processo de elitização do futebol?

Pedro Asbeg: Eu acho que isso é um problema mundial, já que estádios na Europa estão passando pelo mesmo processo. Mas o futebol no Brasil é o esporte mais popular, faz parte da nossa cultura, traz lazer às pessoas, então esse problema se torna ainda mais grave. Eu acho que o que aconteceu foi um crime, um estupro. Acabaram com o Maracanã, tanto do ponto de vista cultural quanto arquitetônico. Transformaram-no em um negócio sem alma.

Pedro Vieira: Vocês ouviram depoimentos de ex-jogadores como Romário, Zico, além de jornalistas, do representante da concessionária responsável pela reforma do Maracanã e até políticos, como o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL do Rio, cada um com uma opinião diferente sobre a geral. Para vocês, o fim dela é um caminho sem volta?

Renato Martins: O futebol está passando por um processo de involução. Quando ele surgiu, na Inglaterra, era um esporte aristocrata, e nós, no Brasil, conseguimos transformá-lo em um esporte popular, para as massas, e agora as massas estão sendo excluídas do futebol. Não existe mais a seleção brasileira, e sim a seleção CBF, em que são os patrocinadores que escalam os jogadores. Eu vejo a esperança na série C, nos times de várzea. Se os grandes clubes continuarem no processo em que estão, no futuro a garotada estará torcendo pelo Barcelona ou Real Madrid, times que eles veem só pela televisão. Existe solução, mas tem que ter vontade política e empresarial pra isso.

Pedro Asbeg: O que a gente está fazendo é necrofilia, estamos lidando com um cadáver, mas somos tão apaixonados que não queremos ver isso.

Pedro Vieira: Na 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o filme foi exibido no Cine Praça, ao ar livre. Como foi participar do evento e ainda por cima ser eleito o melhor filme pelo júri popular?

Pedro Asbeg: Quando houve o convite para participarmos da mostra foi uma surpresa muito grande. A sessão em praça pública foi emocionante, pois traz uma outra relação com o público. E o nosso filme fala justamente sobre espaços públicos, fala de inclusão e exclusão, o que tornou tudo ainda mais legal. E ficamos surpresos ao ganhar o troféu, realmente não esperávamos.

Pedro Vieira: Geraldinos foi exibido pela primeira vez no Festival É Tudo Verdade, em 2015. Como está a distribuição do filme?

Pedro Asbeg: Não temos verba específica para a distribuição então iremos diversificar. A ideia é levar o filme para o maior número de pessoas através do sistema de video on demand. Também iremos fazer algumas exibições no Canal Brasil, que é coprodutor do filme.

Renato Martins: Queremos levar o filme para cinemas alternativos do Rio, São Paulo, Minas Gerais e também para o sul e nordeste, mas a plataforma on demand será a principal maneira de distribuição do documentário. E quem quiser saber mais informações pode acessar a página
www.facebook.com/geraldinosdoc