quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um mergulho no mar de Almodóvar

Um dos principais cineastas da atualidade, o espanhol Pedro Almodóvar se inspirou em três contos da escritora canadense Alice Munro, vencedora do Prêmio Nobel, para criar seu novo filme, "Julieta". O longa, que estreou no Festival de Cannes no ano passado, chega agora ao Brasil. Mais uma vez, as mulheres são o foco principal, numa trama que fala sobre paixões arrebatadoras, maternidade, abandono, culpa e depressão.

Julieta é uma jovem professora quando, numa viagem de trem, conhece Xoan, um pescador casado com uma mulher em coma. Os dois se apaixonam e, dessa união, nasce Antía. Tudo é narrado em flashbacks. Quando o filme começa, Julieta perdeu todo e qualquer contato com a filha. É por meio de um encontro casual com uma antiga amiga de adolescência da menina que a ferida é reaberta. Ao ter notícias de Antía, a protagonista desiste de se mudar com o namorado para Portugal e tenta reencontrá-la, revisitando o passado - o que pode ter consequências devastadoras.

Em pouco mais de uma hora e meia de exibição, mergulhamos junto às personagens numa trama misteriosa, que transborda emoções - o que é enriquecido pela trilha sonora com ares de suspense. Afinal, o que levou Antía a abandonar a mãe? Conseguirá Julieta refazer a sua vida, mesmo com a inerente dor da ausência?

Na tela, duas belas atrizes se revezam no papel de Julieta. Na meia idade ela é vivida por Emma Suárez e na juventude por Adriana Ugarte, dona de uma beleza natural e ao mesmo tempo estonteante. Ambas estão ótimas no papel, transmitindo com maestria as dores e as delícias da personagem-título. Completam o elenco Daniel Grao (Xoan), Inma Cuesta (Ava, artista plástica amiga de Xoan), Rossy de Palma (Marian, empregada mal-humorada da casa), Priscilla Delgado (Antía jovem) e Blanca Parés (Antía adulta).

"Julieta" pode não ser o melhor trabalho de Almodóvar, mas está longe de ser ruim. O final, em aberto, pode desagradar a alguns, mas mostra que é impossível controlar aqueles que amamos e que às vezes, precisamos aprender a conviver com a própria dor, por mais difícil que isso possa parecer.

Um comentário: