domingo, 16 de agosto de 2020

1984: Advertência ou profecia?

Quando eu ganhei de presente de aniversário o livro “1984”, de George Orwell, uns 3 anos atrás, eu pensei: “Nossa, que legal! O livro que traz o conceito do Big Brother…” eu sabia que era um clássico, mas por algum motivo ele ficou lá, na minha estante, na fila dos livros para ler. 

Durante a pandemia – e na tentativa de deixar o celular um pouco de lado – eu resolvi ler alguns livros. Um deles foi “The Handmaid’s Tale”, de Margaret Atwood, que se passa numa sociedade distópica em que as mulheres são oprimidas. Gostei muito! Aí eu lembrei que “1984” também falava sobre uma distopia totalitária, vigiada pelo “Grande Irmão”. Eis que o li.

O que eu trago aqui não é nenhuma análise crítica, profunda, sobre a obra-prima de Orwell, e sim a minha experiência como leitor. O livro foi publicado em 1949, sete meses antes do autor morrer. O romance – se é que podemos chamá-lo assim, porque pra mim está mais pra um livro de terror – se passa em 1984, numa cidade chamada “Pista de Pouso Número 1” (que seria Londres), na Oceânia, uma superpotência controlada pelo Partido e comandada pelo seu líder, o “Grande Irmão”. Ele é o olho que tudo vê. Todos os habitantes são constantemente vigiados e precisam seguir uma única regra: a obediência absoluta em ação e pensamento.

Nosso “herói”, se é que podemos chamá-lo assim, é Winston Smith, um homem de 39 anos que reage contra o sistema. Ele trabalha no Ministério da Verdade e é um dos responsáveis por “mudar o passado”, alterando notícias de jornais de modo que elas favoreçam a Oceânia. Smith começa a escrever um diário e a praticar outros atos extremamente proibidos. Mas ele não está sozinho nessa. Ele se apaixona por Julia, uma moça que trabalha no mesmo Ministério que ele, e a quem ele odiava no princípio, pois achava que ela era devota do Partido.

Encorajados pelo amor, eles tentam entrar em contato com uma força de oposição chamada Confraria, supostamente liderada pelo arqui-inimigo do Grande Irmão, Emmanuel Goldstein. Porém eles acabam caindo numa armadilha. E é aí que o livro fica terrivelmente tenso. Eu diria até aterrorizante e cruel, com sessões de tortura, lavagem cerebral e outros tipos de violência física e psicológica, tudo para que o protagonista se adéque ao sistema. Não dá pra revelar mais sem entregar momentos cruciais do livro – acho até que já falei demais…

O que mais me assustou em “1984” é saber que ele é uma história sobre um futuro que passou, mas que continua alarmante. Se Orwell lançou o livro em 1949 imaginando como seria a sociedade 35 anos no futuro, lá se vão 36 anos que o derradeiro ano já passou. E graças a Deus não chegamos ao que ele indicava. Mesmo assim rola um certo medo de que algo assim não seja totalmente impossível, ainda mais com o que a gente tem visto nos dias de hoje: crescimento da extrema direita, países fechados controlados por ditadores, ameaças de guerras, e por aí vai.

Se o conceito do livro foi absorvido pela indústria do entretenimento e virou o mote para o programa “Big Brother”, que coloca os participantes em confinamento numa casa vigiada 24 horas por dia, fica fácil prever o caminho que essa falta de liberdade pode gerar. Ou seria a liberdade uma forma de escravidão? - assim como prega o “duplipensamento”, uma disciplina mental apresenta no livro cujo objetivo é ser capaz de acreditar em duas verdades contraditórias ao mesmo tempo.

Fato é que eu terminei de ler “1984” com mais perguntas que respostas. Agora, se o objetivo de George Orwell era mexer com o leitor – pro bem ou pro mal – ele, de fato, conseguiu. Impossível sair ileso depois dessa experiência.

Adaptações para o cinema

"1984" já teve duas adaptações para o cinema. A primeira é de 1956. Foi dirigida por Michael Anderson e estrelada por Edmond O'Brien. O'Brien, o vilão, foi renomeado como "O'Connor," para evitar confusão com o nome do ator principal. A história é substancialmente diferente do livro. No Youtube tem o filme completo. Clique aqui para assistir.

A segunda versão foi lançada em 1984 - qualquer semelhança não é mera coincidência - e tem direção de Michael Radford. O elenco trouxe John Hurt, Richard Burton, Suzanna Hamilton e Cyril Cusack. 

Pra assisti-lo, clique aqui.

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