domingo, 16 de abril de 2017

Em busca de abrigo



O livro “A Cabana” foi lançado por William P. Young em 2007. Chegou ao Brasil um ano depois, embalado pelo sucesso lá fora. Voltado inicialmente ao público religioso, acabou conquistando os mais variados leitores devido a sua mensagem de amor, ódio, perdão e dor. Em quase uma década, foram cerca de 20 milhões de exemplares vendidos. É até de se espantar que ele tenha demorado tanto para virar filme.

Confesso que não li o livro, mas já conhecia a história. Mack é um homem que teve a filha de seis anos raptada durante um acampamento. A menina nunca foi encontrada, mas sinais de que ela teria sido violentada e assassinada são achados em uma cabana no meio das montanhas. Tempos depois ele recebe um misterioso bilhete supostamente escrito por Deus, convidando-o para uma visita a essa mesma cabana. Em busca de respostas, ele vai até o local, onde terá um inusitado encontro com o pai, o filho e o espírito santo.

Quando fui à pré-estreia do filme, uma sessão para convidados numa segunda-feira à noite no Boulevard Shopping, esperava um drama pesado... sou daqueles que chora até vendo comercial de margarina, então já deixei o lenço reservado pois sabia que ia me emocionar.

Ainda na fila, percebi que a maioria ali se conhecia. As pessoas se cumprimentavam como se pertencessem a um grande clube. Já na sala, antes do filme começar, fotógrafos registravam aquele encontro e uma pessoa agradecia a presença de todos. Eis então que chega um pastor e começa uma grande corrente de oração, ao que a maioria respondia “amém” a cada pausa dada por ele. Minha ficha caiu: eram todos de uma mesma igreja evangélica e a pré-estreia era um evento religioso. Sou católico não praticante, tinha recebido o convite por e-mail e não sabia de nada até então. Independente de tudo isso, estava ali para ver o filme, e ele tinha acabado de começar.

Não tenho filhos, mas imagino a dor de um pai como Mack (Sam Wortington) ao passar por tal situação. Desde a primeira cena em que aparece a garotinha Missy a gente já se afeiçoa a ela e, por mais que saibamos do seu trágico destino, torcemos para que a cena demore a chegar. Depois do ocorrido, Mack se torna uma pessoa amargurada. Seus outros dois filhos adolescentes mal falam com ele e a esposa Nan (Radha Mitchell) parece incapaz de salvar o casamento.

Até que acontece o derradeiro encontro. O frio, a neve e a cabana caindo aos pedaços dá lugar a campos verdejantes, cheios de flores, um lago, animais e uma casa na floresta, onde mora a santíssima Trindade. Ali, Mack vai mergulhar numa viagem para dentro de si mesmo, ao passado de abusos, quando era vítima da violência do próprio pai, e precisará entender a importância do perdão para poder seguir em frente.

O mais interessante do filme, na minha opinião, é a figura de Deus ter sido retratada por uma mulher – a ótima atriz Octavia Spencer. Confrontada porque não faz nada para amenizar o sofrimento de nós, seres humanos, já que é tão poderoso(a), e porque existe tanta injustiça no mundo, a resposta é dada em doses homeopáticas, ao longo de pouco mais de duas horas de filme.

Sem querer revelar o fim da história, o que eu senti ao assistir “A Cabana” é que ele é muito mais um filme filosófico do que religioso. Apesar de soar “catequizante” em determinados momentos (tem-se a impressão de que para ser feliz é preciso crer em Deus e perdoar seus inimigos), os questionamentos que ele faz acerca da vida, da origem do bem e do mal, da existência do divino, vão muito além de tudo isso.
Assista com o coração aberto. Tenho certeza que será uma experiência enriquecedora, seja você de que credo for.

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